O PREGADOR DA BICICLETA
Ele mora em um bairro próximo a Beberibe. Caráter um pouco rebelde, desses que gosta de fazer o que pensa, e não o que manda as normas da igreja ou de uma comunidade evangélica de que faz parte. Gosta de fazer as coisas de um modo um tanto excêntrico.
E ele faz bem feito. Durante toda a semana praticamente é possível vê-lo pegar sua bicicleta, acoplada com um microfone e um caixa de som e armar seu palco para levar uma mensagem evangélica aos moradores da localidade onde ele chega para dar a mensagem de Cristo aos pecadores. Sua figura magra, sua voz de taboca rachada, meio gago, o deixa um pouco engraçado. Alguns absurdos que ele faz e diz também. Certa vez, quando estava pregando, sozinho, como sempre, chamou um garoto que passava perto dele e mandou que cantasse um hino. Mas o engraçado também foi que nesse mesmo dia que ele armou sua “tenda” na praça da Josélia, estava havendo um culto festivo na Assembléia de Deus da mesma, onde ele já fez parte. Conta que desvinculou-se da mesma. Não tinha como. Num culto que houve, ele levantou-se no meio da preleção do oficial da igreja e disse umas coisas pessoais dele e da família; nas palavras ditas se via descontentamento de sua parte. Tinha que dar nessa sua saída.
Os moradores da localidade de Nova Descoberta já o conhece. Vez ou outra ele leva um irmão consigo e deixa-o da uma palavra, cantar ou pregar. Para mostrar legitimidade de seu trabalho, cita o constituição, Artigo 5, onde diz que no Brasil há liberdade de culto, que ninguém pode proibir, etc. fica até um pouco depois das nove. Talvez para diferenciar de sua antiga congregação, que sempre termina às nove em ponto. O pregador da bicicleta não descança. Que força de vontade. Amor à obra. Compromisso. Mesmo depois de uma jornada de trabalho dirigindo – sim, é motorista –, pega sua bicicleta e sai. Num lugar que ele achar mais conveniente, ou, talvez, Deus lhe indique, ele para, sobe num poste ou numa árvore perto e coloca picape, cujo som é forte, chega longe. Sua esposa nem o filho não o acompanha –por quê será? – ao santo trabalho. Presumo que terá um belo galardão por levar as Boas Novas de salvação num horário e lugares que ninguém ou pouca gente tem coragem de fazê-lo. Nem mesmo pastor ou evangelista.
O pregador da bicicleta é muito corajoso. Pregador corajoso e consciente de seu trabalho. Onde precisar pregar ele estará lá. Ninguém vai poder dizer diante do Trono Branco que não ouviu a mensagem do Evangelho.
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